www.engenharia-brasil.com

CREA-SP: BRASIL QUER CRESCER, MAS FALTAM ENGENHEIROS

Lígia Mackey, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP), e Vinicius Marchese, presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).

  www.creasp.org.br
CREA-SP: BRASIL QUER CRESCER, MAS FALTAM ENGENHEIROS

Que a Engenharia é indispensável para alavancar o desenvolvimento nacional, não há dúvidas. É um fato consolidado. No entanto, o cenário brasileiro atual escancara uma realidade alarmante: enquanto o mercado da área tecnológica segue em expansão, há um déficit de mão de obra qualificada. Temos vagas, recursos e projetos – mas faltam os profissionais necessários para ocupar as respectivas frentes de trabalho. É urgente reequilibrar a lei da oferta e da demanda.

O Ministério das Cidades estima que o programa Minha Casa, Minha Vida deve alcançar a marca de 3 milhões de moradias até 2026. Uma meta de curto prazo em um contexto de carência de engenheiros capacitados. A pergunta que se impõe é: será possível sustentar metas semelhantes nos próximos cinco ou dez anos? Se o Brasil continuar negligenciando a formação em Engenharia, Agronomia e Geociências, programas estruturantes como o Minha Casa, Minha Vida, o PAC ou qualquer outra iniciativa de infraestrutura correm sério risco de estagnação.

A porcentagem de brasileiros graduados ainda está muito aquém da média das economias avançadas, que gira em torno de 40%. De acordo com o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população com curso superior no Brasil passou de 7% em 2000, para 18% em 2022. Embora a parcela da população brasileira com ensino superior completo tenha quase triplicado em 22 anos, isso não significa que todos os graduados estejam aptos ao exercício técnico que o mercado demanda.

O Brasil vive um boom de investimentos em infraestrutura, habitação, mobilidade e logística, mas o ritmo acelerado dessas iniciativas também expõe os desafios técnicos. Seja pelo abandono dos cursos ou por uma formação desconectada da prática, a formação de engenheiros, agrônomos e geocientistas não acompanha a velocidade que o país exige.

A projeção é clara: sem um esforço coordenado, o Brasil poderá enfrentar um déficit de 1 milhão de engenheiros até 2030. Em 2025, esse número já ultrapassa meio milhão. Isso afeta diretamente nossa capacidade de executar obras, inovar, aumentar a produtividade no campo e sustentar o crescimento econômico.

Precisamos levar a sério a formação profissional em um mercado que está fervilhando. Educação técnica superior precisa ser tratada como política pública prioritária, com o envolvimento de todos os agentes de desenvolvimento: governo, instituições de ensino, setor produtivo e sociedade civil.

Para reforçar essa urgência, o Sistema Confea/Crea divulgou recentemente um mini-censo histórico realizado pela Quaest, que ouviu 48 mil profissionais registrados. Os dados mostram que 92% estão em atividade. Mas como aumentar a produtividade, a entrega de obras e o uso eficiente de novas tecnologias sem novas pessoas tecnicamente capacitadas??

Nosso papel, enquanto Sistema que abrange essas profissões, vai muito além da fiscalização. Trabalhamos para influenciar políticas públicas que valorizem a formação prática, incentivem a permanência dos jovens na Engenharia e promovam o sucesso técnico das futuras gerações.

Encarar isso exige movimento. Os decisores públicos precisam ser ágeis, e escolas e universidades devem se adaptar. É necessário reformular currículos, investir em metodologias conectadas à realidade e substituir o antigo pelo novo, acompanhando as transformações tecnológicas, sociais e culturais.

Um outro estudo, conduzido pelo Fórum Econômico Mundial e da Fundação Dom Cabral, apontou o impacto das tecnologias no mercado de trabalho até 2030. A pesquisa, realizada em 55 países, revelou que a ampliação do acesso digital é tida como uma das tendências transformadoras por 60% dos respondentes. E o declínio da população em idade ativa também preocupa: 40% dos empregadores já sentem os impactos da redução da força de trabalho disponível.

Diante disso, impulsionar as novas gerações é prioridade. Jovens que cresceram imersos em tecnologia precisam encontrar sentido no que aprendem. A distância entre o conteúdo acadêmico e as demandas reais do mercado precisa ser reduzida. Sem uma formação conectada à prática e à solução de problemas concretos, não haverá profissionais prontos para o que o Brasil precisa.

Uma economia forte se sustenta sobre a base técnica da sua população. Sem esforços coordenados e investimentos estruturantes em educação, continuaremos sendo a economia do "quase" — quase pronta, quase desenvolvida, quase preparada.

www.creasp.org

  Peça mais informações…

LinkedIn
Pinterest

Junte-se aos mais de 155 mil seguidores do IMP