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ENTREVISTA - ROBÓTICA RECUPERA POSIÇÃO DE DESTAQUE NO MERCADO DE AUTOMAÇÃO INDUSTRIAL
Se a pandemia do Coronavírus recrudesceu ou não a busca por formas mais avançadas e eficientes para se produzir, a verdade é que os robôs são a vedete do momento quando se trata de automação industrial. Para entender melhor essa mudança de paradigma, conversamos com Rodrigo Bueno, Diretor da área de Robótica da ABB Brasil. A seguir, você saberá o que vem pela frente e, de fato, o que esses dispositivos podem realizar e que ainda não sabemos.
REVISTA AUTOMAÇÃO – Não há dúvidas de que o mercado de robótica está mudando muito depois de ter sido praticamente o mesmo durante décadas. Quais motivos você destaca como impactantes nessa transição?
RODRIGO BUENO – A robótica está acompanhando as mudanças do mercado para atender consumidores cada vez conectados, como também evoluindo com descobertas tecnológicas que permitem novas aplicações na indústria. No mundo atual, a robótica não pode entregar apenas o que já tradicionalmente oferecia – produtividade, qualidade e precisão; um dos requisitos para se manter competitivo agora é a flexibilidade, necessária para suprir demandas por produtos e serviços personalizados, reagir de forma rápida a choques de oferta como a que enfrentamos atualmente, e operar de forma sustentável.
Essa flexibilidade virá com os avanços na adoção de robôs colaborativos, robôs móveis autônomos (AMRs) e sistemas digitais que permitem, por exemplo, montagens personalizadas e mudanças rápidas de produção. Também será fundamental nesse sentido a mudança para uma logística e manuseio de materiais nas fábricas mais autônomos. E tudo isso pode ser melhorado por meio da conectividade local mais rápida, incluindo o uso de redes 5G, que revolucionará soluções de Internet das Coisas (IoT), e da popularização da Inteligência Artificial e aprendizagem de máquinas.
Outra transformação importante é a transição para células modulares e individuais de produção, capazes de suportar uma maior variação de produtos e oferta em comparação com a montagem linear. Isso dá aos fabricantes a possibilidade de modificar ou até mesmo substituir células individuais sem a necessidade de interrupções de produção. Assim, é possível iniciar processos em pequena escala e aumentar o ritmo de produção, adicionando ou reimplantando células de acordo com as mudanças de demanda.
O uso de big data para planejamento preditivo ajudará os fabricantes a otimizar layouts de produção por meio de simulações de gêmeos digitais, ao garantir que eles possam antecipar e reagir às mudanças.
REVISTA AUTOMAÇÃO – A demanda no mercado global de robótica industrial atingiu US$ 28,90 bilhões em 2021, e a previsão é a de que o mercado cresça mais de três vezes até 2028. Quais setores industriais são e serão os responsáveis por esse crescimento espantoso? Por quê?
RODRIGO BUENO – Um dos impulsionadores, sem dúvidas, será a aceleração do boom do e-commerce. Com as mudanças do comportamento do consumidor, cada vez mais conectado, informado e exigente, as empresas estão encontrando novas maneiras de satisfazer a demandas, desenvolvendo novos canais por meio do varejo multicanal (omnichannel) e adaptando suas linhas de produção e processos de distribuição para permitir a personalização de produtos e entrega. Essas transformações têm elevado a instalação de robôs onde eles não eram usados há alguns anos. Em suma, como a flexibilidade ser tornou uma necessidade estratégica, a automação começa a se expandir em toda a cadeia de valor: desde a fabricação e logística até o ponto de consumo.
Aliás, o mercado oferece hoje tecnologia para automação capaz de suprir as necessidades de empresas de diversas atividades industriais, seja de grande, médio ou pequeno porte. Além da cadeia automotiva, pioneira no uso de robôs nas linhas de produção, setores como a Alimentos e Bebidas, Logística, Saúde e Construção, entre outros, vêm intensificado a adoção de robôs, com soluções customizadas, em busca de maior produtividade, redução de custos, segurança dos colaboradores, sustentabilidade e, claro, flexibilidade.
A indústria automotiva, inclusive, continuará a demandar soluções robóticas em busca de velocidade e flexibilidade adicional. Isso porque a transição dos veículos a combustão para os elétricos exigirá que as linhas produção sejam adaptadas para atender a essa diversidade de modelos de carros (combustão, híbrido e elétrico), o que fará com que os fabricantes novos e estabelecidos se afastem da produção linear tradicional, em direção à produção modular e flexível.
Em linha com esse movimento, a ABB está ajudando globalmente as empresas do setor automotivo e os principais fornecedores de componentes e tecnologia com soluções de fabricação rápidas, eficientes e flexíveis para apoiar a implantação de uma nova geração de powertrains eletrificados. Nesse sentido, a empresa anunciou recentemente uma grande joint venture com o principal fornecedor de peças automotivas da China, a HASCO, para ajudar a orientar a próxima geração de produção inteligente com soluções de automação altamente eficientes e ambientalmente sustentáveis. Os planos incluem a abertura de uma fábrica de robótica mais avançada do mundo, em Xangai, acelerando inovações em desenvolvimento de produtos, inteligência artificial e soluções de automação.
REVISTA AUTOMAÇÃO – De que forma a Indústria 4.0 e a Inteligência Artificial criam oportunidades para aplicações robóticas e, consequentemente, tornam os robôs mais populares na manufatura?
RODRIGO BUENO – Um bom exemplo do que podemos esperar de novas aplicações criadas a partir da IA virá da parceria anunciada no final de 2021 pela ABB com a startup suíça Sevensense para impulsionar a próxima geração de robôs móveis autônomos (AMRs). A integração entre a tecnologia de IA e mapeamento 3D da Sevensense com nossa oferta de AMR ajudará a acelerar a substituição das linhas de produção linear de hoje por redes totalmente flexíveis. Temos como visão do futuro um local de trabalho em que os AMRs movam materiais, peças e produtos acabados entre estações de trabalho inteligentes em ambientes de trabalho cada vez mais dinâmicos e não estruturados, ampliando as possibilidades de uso.
Além disso, os cobots têm aprimorado a sua capacidade de trabalhar diretamente ao lado de pessoas, compartilhar tarefas e aprender por meio da IA, o que está facilitando a adoção de automação inteligente em novos ambientes, como construção, laboratórios de saúde, restaurantes e varejo.
E são também esses robôs menores, mais acessíveis e fáceis de usar, como os cobots YuMi®, GoFa™ e SWIFTI™ da ABB, que estão ajudando a acelerar a adoção da robótica na indústria em geral e pequenas e médias empresas. Um dos diferenciais dos cobots é versatilidade, uma vez que eles podem ser ensinados a fazer novos trabalhos. O mesmo robô que atua no laboratório clínico, por exemplo, pode ser adaptado para parafusar caixas numa outra empresa.
A nossa Pesquisa de Automação ABB Robotics 2021 mostrou que apenas 36% dos pequenos negócios, com menos de 25 funcionários, adotam robôs em suas atividades; 60% informaram que devem introduzir ou aumentar o uso atual de robótica nos próximos 10 anos. Entre as médias, de 25 a 250 funcionários, o índice dos que já utilizam robótica dobra, para 71%. O estudo ainda mostra que mesmo assim, 92% dizem que provavelmente introduzirão ou elevarão o uso atual de robótica na próxima década. Ou seja, os robôs industriais estão crescendo cada vez mais e a expectativa é que os avanços tecnológicos facilitem ainda mais a adoção deles na indústria.
REVISTA AUTOMAÇÃO – Com o lançamento dos modelos SCARA (Selective Compliance Articulated Robot Arm), a robótica elevou-se a um outro patamar. Explique como essa tecnologia permite que o robô colabore com outras máquinas e robôs simultaneamente, no sentido de permitir maior flexibilidade e aumento de produtividade?
RODRIGO BUENO – O robô SCARA é um robô de alta velocidade que tem como principal característica um braço articulado de 2 eixos que de certa forma imita o braço humano, embora ele opere em um único plano. Sua estrutura permite que o braço se estenda e se retraia em áreas confinadas, o que o torna adequado para operações com alcance dentro de gabinetes ou células de operação pequenas. É nesse sentido que a sua tecnologia permite a colaboração com outras máquinas e robôs simultaneamente, trazendo maiores flexibilidade e produtividade.
Esses robôs operam em tempos de ciclo curtos, com altas precisão e confiabilidade, tudo alcançado com sua elevada velocidade, auxiliando na montagem de peças pequenas, manuseio de materiais e inspeção de peças, por exemplo.
Um bom exemplo de aplicação foi o uso do SCARA da ABB para auxiliar no processamento de amostras de teste COVID-19. Os centros de teste em Cingapura precisavam aumentar a taxa de testes de amostras COVID-19 para 40 mil diárias, mas havia o risco de possíveis contaminações com o vírus ou lesões aos funcionários por causa dos movimentos repetitivos. O robô ABB SCARA foi solução para que o processamento fosse quatro vezes mais rápido do que usando métodos manuais, além de diminuir a contaminação e a longa jornada de trabalho.
REVISTA AUTOMAÇÃO – Os robôs são amplamente utilizados (e mais conhecidos) nas operações de soldagem, pintura, montagem, entre outras, na indústria automobilística. Em quais aplicações inovadoras os robôs podem surpreender e trazer ganhos para o usuário?
RODRIGO BUENO – Além das tradicionais atividades exercidas principalmente da indústria automobilística, o uso da robótica recebeu forte impulso com a crescimento do e-commerce e vem se destacando cada vez mais no setor de logística e distribuição, proporcionando agilidade e flexibilidade em operações como paletização, despaletização, carga/descarga de máquinas e montagem. A capacidade para adaptação de atividades a partir de células robóticas modulares também tem impulsionado a automação em mais setores, incluindo novas indústrias e o varejo. Também existem modelos que fazem testagem de amostras como robô ABB SCARA, citado na pergunta anterior.
Mas entre as aplicações inovadoras da robótica que vêm surpreendendo estão as soluções capazes de entregar produtos e serviços personalizados, uma das demandas do consumidor atual. Em abril deste ano, por exemplo, a Selfridges, uma das principais lojas de departamento de Londres, na Oxford Street, fez em sua vitrine uma demonstração de impressão 3D com um robô da ABB, que exibiu o futuro papel da robótica no ponto de consumo. Na ocasião, a impressão aditiva 3D do robô da ABB usou Parley Ocean Plastic® reciclado para criar uma variedade de itens de designer personalizados que podem ser encomendados pelos clientes e produzidos no local, prontos para compra. Nesse contexto, além de reforçar a importância da sustentabilidade, a demonstração também destacou o potencial mais amplo da robótica para atrair clientes para as lojas.
E as inovações da robótica estão surpreendendo até mesmo na indústria automotiva, que tem hoje ao alcance soluções em linha com as renovadas necessidades do mercado. A tecnologia PixelPaint da ABB veio para revolucionar a pintura automotiva, ao reimaginar o processo de aplicação para atender à crescente demanda por personalização no setor, particularmente na pintura externa. A pintura de carros multicoloridos tem sido tradicionalmente um processo trabalhoso e caro que envolve vários estágios de mascaramento e desmascaramento, mas a tecnologia da ABB permite uma replicação detalhada, colorida e exata de qualquer projeto, e também melhora a sustentabilidade da fabricação, eliminando a necessidade de materiais de mascaramento e ventilação extra, o que reduz as emissões e economiza água e energia.